Barbacena (MG) — Um homem de aproximadamente 60 anos, pele escura e rugas profundas no rosto está parado próximo ao portão de saída do Hospital Psiquiátrico Judiciário de Barbacena, na Região Central de Minas. Ao seu lado, uma jovem. O guarda digita dados no computador e os dois partem para um passeio com retorno marcado para um par de horas depois. O uniforme da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) do estado pode até chamar a atenção de quem passa pelo homem nas ruas de Barbacena, mas o impacto seria ainda maior se conhecessem a história dele. Raimundo Carvalho dos Santos foi enviado em 1995 ao hospital judiciário após assassinar o lavrador Jaci Félix da Costa, 47, na zona rural de Serra Azul de Minas, no Vale do Jequitinhonha, destrinchar o corpo da vítima e o distribuir em dois balaios. Durante três dias, retirou partes do cadáver e as cozinhou no feijão, até ser descoberto e preso.
Depois de aproximadamente 15 anos confinado, Raimundo participa agora do programa Desinternação Progressiva. Ao lado de uma voluntária, o interno sai às ruas e se prepara para a libertação. No caso do ex-morador de Serra Azul de Minas, a partida definitiva deve acontecer em um ano. O destino, porém, é incerto. Um reencontro com a família pode nunca acontecer. Dos 197 internos do manicômio da cidade — sendo 150 homens e 47 mulheres — apenas 10 recebem visitas. O diretor de atendimento do hospital, Sebastião Vidigal, diz que a falta de contato é por motivos financeiros. “A maior parte das pessoas que estão aqui é de família carente, o que impede até mesmo um contato telefônico.”
Créditos: Correio Braziliense – Leonardo Augusto