Na aula de Direito Penal – Teoria da Pena, do dia 16.10.2012, o professor Lobão comentou e sugeriu, para aqueles que não tiveram a oportunidade de assistir a entrevista do Dr. Dráuzio Varella, veiculada no dia 15.10.12, na TV Cultura, durante o Programa Roda Viva, que o fizessem, pois o conhecido médico narrou alguns aspectos do ‘mundo paralelo’ dos presídios, alguns dos quais foram e/ou serão temas afetos do programa da cadeira de Direito Penal deste semestre…
Abaixo, consta o link para a referida entrevista, bem como a matéria publicada no site da TV Cultura.
“A cadeia é um ambiente muito rico”
O médico oncologista e escritor Drauzio Varella fala sobre seu novo livro, presídios e saúde no Brasil.
A fama do médico oncologista Drauzio Varella chegou como resultado do trabalho que desenvolveu atrás das grades, ao tratar de presidiários da Casa de Detenção Carandiru, em São Paulo, por mais de 10 anos, como voluntário. A experiência foi parar no livro ‘Estação Carandiru’ (1999), de sua autoria, com mais de 500 mil exemplares vendidos, e ainda virou filme e peça de teatro. Na obra, ele retrata a população carcerária do presídio que foi considerado um dos mais violentos do Brasil.
Após muitos anos, o médico lança ‘Carcereiros’ para falar sobre o outro lado das grades. Desde o seu trabalho no Carandiru, Drauzio fez amigos com quem costumava tomar cerveja nos fins de tarde. Mesmo após a desativação do presídio, o médico continuou a se encontrar com alguns deles, o que lhe rendeu histórias. “Na época, nós fizemos um acordo de nos encontrarmos a cada duas ou três semanas. Hoje tenho grandes amigos”.
O autor explica qual é a diferença entre as obras, além do tema: “‘Estação Carandiru’ é um livro contado por um médico, e ele procura ficar neutro. Eu tomei o cuidado de cortar todos os adjetivos. ‘Carcereiros’ foi feito por um homem mais maduro. Eu acho que o leitor já esperava que eu me colocasse como personagem. É um narrador que participa com comentários”.
Hoje, Drauzio presta assistência voluntária na Penitenciária Feminina de São Paulo, experiência que será contada em seu próximo livro.
Reconhecido pelo público pela sua atuação em programas de TV, desde 1986 Drauzio está envolvido em campanhas de conscientização, quando começou a esclarecer a população sobre a prevenção à AIDS pelas rádios.
Um dos seus principais ideais quando foi trabalhar como voluntário no Carandiru era o trabalho de conscientização da prevenção à AIDS. “No dia do massacre eu estava fazendo uma palestra. 72% dos travestis eram HIV positivo. E eles me disseram que faltava camisinha”.
Drauzio conta que o período em que atuou no Carandiru foi a época de pico da epidemia da AIDS. Hoje, ele vê uma melhora e diz que o que ajudou muito foi o coquetel antiviral.
Como pesquisador, Varella trabalha em um projeto na Amazônia de bioprospecção de plantas brasileiras, com o objetivo de obter extratos e testá-los em células tumorais malignas e bactérias resistentes aos antibióticos.
“Essa coisa de cadeia vai ficando impregnada na gente”. É assim que define o seu mergulho no tema de uma forma tão real. Para ele, existe uma zona cinzenta muito maior do que essa classificação de bem e mal, por isso é preciso rever o sistema.
Segundo o médico, a eficiência da polícia aumentou, mas as cadeias continuam do mesmo tamanho. Seria preciso um novo sistema, onde penas alternativas punissem infratores que não representam riscos para a sociedade. “Não existem estudos que avaliem as consequências tardias da vida na cadeia. A sociedade não pensa que o preso vai sair da cadeia e voltar para as ruas”.
20 anos depois do massacre do Carandiru, pouco se fala em julgar os culpados. E Drauzio indaga: “Mas quem será julgado? Os militares? Militar obedece ordens. Alguém disse: ‘entra’”.
Apresentado pelo jornalista Mario Sergio Conti, o Roda Viva contou, para esta edição, com uma bancada formada por Luiz Alberto Mendes (escritor e ex-presidiário); Maria Emília Bender (editora da Companhia das Letras); Dib Carneiro (dramaturgo e jornalista); Marta Machado (professora de Direito da Fundação Getulio Vargas e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Cebrap); e Jean Wyllys (jornalista, escritor e deputado federal). O Roda Viva também teve a participação do cartunista Paulo Caruso. –