“Ele supunha operar um feito bíblico, movido por alucinações, visões, misticismo e, claro, por uma predisposição genética à esquizofrenia paranoide, a qual foi ganhando musculatura por conta do consumo imoderado de substâncias alucinógenas, do fanatismo religioso e da crença no sobrenatural.” A afirmação foi feita pelo juiz federal Mateus de Freitas Cavalcanti Costa na sentença, proferida em maio do ano passado, que considerou Carlos Eduardo Sundfeld Nunes doente mental a ponto de não poder ser responsabilizado pela morte do cartunista Glauco Vilas Boas e do filho dele, Raoni.
Desde então, Cadu, como é conhecido, cumpre medida de segurança (tratamento compulsório). Em outubro passado, foi transferido do Complexo Médico Penal em Curitiba (PR) para Goiânia, onde apenados como ele não ficam em manicômios judicários, mas sim em hospitais gerais ou especializados em psiquiatria.
Considerado avançado, o sistema em Goiás, chamado de Programa de Atenção ao Louco Infrator (Paili), considera os princípios da reforma psiquiátrica, que se materializou em uma lei de 2001, para tratar doentes que cometeram crimes. Por isso, aposta no tratamento ambulatorial ou mesmo de internação, mas em instituições de saúde, e não de custódia. A ideia é inspirada em iniciativa de Minas Gerais. Glauco e Raoni foram assassinados na madrugada de 12 de março de 2010, quando Cadu invadiu o sítio onde as vítimas moravam, em Osasco, na Grande São Paulo. Pai e filho foram alvejados com quatro tiros, cada um. Cadu frequentava a Igreja Céu de Maria, fundada por Glauco na década de 1990 dentro dos preceitos do Santo Daime. As práticas incluem a ingestão do chá de ayahuasca, planta considerada alucinógena. O juiz do caso entendeu que Cadu, ao praticar o crime, estava”incapaz de entender o caráter ilícito do fato”.
Créditos: Correio Braziliense – Renata Mariz