Com um olhar agitado e as mãos trêmulas, Gabriel* descreve o que o levou ao Hospital de Custódia e Tratamento da Bahia: “Vai, vai, mata eles. Não, não, hoje não, outro dia. Vai, hoje mesmo”. Eram, nas palavras do rapaz de 26 anos, há quase três no estabelecimento, as “vozes de ideia contrária” que ele ouve desde menino. Em uma manhã, Gabriel sucumbiu ao pedido. Passou uma faca no pescoço do padrasto, que, naquele momento, fazia o café. Esperou a mãe chegar e também a matou. Colocou os dois corpos embaixo da cama, até ser facilmente descoberto pelos vizinhos.
As tais vozes que Gabriel ouve são familiares a 42% da população que vive em hospitais de custódia no país, também conhecidos como manicômios judiciários. Essa é a proporção dos acometidos pela esquizofrenia — doença mental complexa cujas causas ainda não são completamente conhecidas. Em segundo lugar nos laudos que trazem o diagnóstico principal dos internos vem o retardo mental, atingindo 16% dos quase 4 mil loucos infratores atualmente detidos, de acordo com estudo financiado pelo Ministério da Justiça obtido pelo Correio.
Créditos: Correio Braziliense – Renata Mariz