Grande Sertão: Veredas – João Guimarães Rosa

Resolvi ler este livro sob a influência do professor de Economia Política, André Nunes, do 2º semestre, que afirmava ser o Riobaldo o seu herói… Em todo cabeçalho dos capítulos do seu trabalho (rascunho do livro de economia que está escrevendo, sendo este uma das bases didáticas da matéria) ele inseriu uma passagem deste livro…

RESUMO

O único romance escrito por Rosa, publicado no mesmo ano que Corpo de Baile [1956]. Obra-prima, traduzida para muitas línguas, é uma narrativa em que a experiência de vida e de texto se fundem numa obra fascinante, permanentemente desafiadora.

O romance se constrói como uma longa narrativa oral, Riobaldo, um velho fazendeiro, ex-jagunço, conta sua experiência de vida a um interlocutor, que jamais tem a palavra e cuja fala é apenas sugerida.

Conta histórias de vingança, seus amores, perseguições, lutas pelos sertões de Minas, de Goiás, do sul da Bahia, tudo isso entremeado de reflexões sobre tudo. Os demais personagens falam pela boca de Riabaldo, valendo-se de seu estilo de narrar e de suas características linguísticas individuais.

As histórias de vingança, vão sendo emendadas, articulando-se com a preocupação do narrador de discutir a existência ou não do diabo , do que depende a salvação de sua alma.

Ocorre que, em sua juventude, para vencer seu grande inimigo Hermógenes, Riabaldo parece ter feito um pacto com o demo. Embora em muitos momentos isso pareça evidente, a existência ou não do pacto fica por conta das interpretações do leitor.

O poder corrosivo do tempo passado confunde os acontecimentos na mente do narrador, impedindo-o de separar o falso do verdadeiro, o vivido do imaginado. A opção pelo monólogo de caráter memorialista implica, no plano da narrativa, distribuição caótica da memória. Dessa forma, a linguagem assume, para o narrador, um poder mágico.

Falar a própria vida constitui a matéria narrativa, mas as dificuldades do viver e do narrar por distorcerem as duas práticas criam um texto ambíguo, tão enigmático quanto à vida, onde tudo é e não é, simultaneamente.

Além desses casos ligados à busca de Hermógenes e Ricardão, assassinos do chefe Joca Ramiro, e que constituem um dos fios da narrativa, existe também o plano amoroso. O amor de Diadorim é motivo de grandes preocupações para o narrador. Na verdade, Riobaldo conhece Diadorim a vida toda como homem – o valente guerreiro Reinaldo e só toma conhecimento de sua identidade feminina no final da luta, quando Diadorim é morto por Hermógenes.

De maneira geral, os críticos apontam três planos no romance. O plano da vida de jagunçagem, que permite rastear os componentes geoeconômico-político sociais do sertão: o plano das reflexões, criado pelos temores de Riabaldo velho, revendo e avaliando o passado e sua própria vida; o plano mítico, centrado nos conflitos representados pelas forças da natureza.

O fragmento que transcrevemos de Grande Sertão: Veredas, traduz algumas reflexões de Riobaldo sobre a existência do diabo:

‘Explico ao senhor, o diabo vive dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si , cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! é o que digo: O senhor aprova? Me declare tudo,  franco – é alta mercê que me faz; e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio que me vejam – é de minha certa importância. Tomara não fosse…

Mas, não diga que o senhor, instruído, que acredita na pessoa dele? Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter sua aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito, Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não é ditado: ‘menino – trem do diabo’? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes….O diabo na rua, no meio do redemoinho.’

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