Em depoimentos à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, a cineasta Lucia Murat e a historiadora Dulce Pandolfi defenderam ontem a apuração rigorosa dos crimes cometidos durante a ditadura militar.
Os relatos da violência sofrida por elas em interrogatórios comoveram a plateia.
Em um trecho de seu depoimento, Lucia descreveu a tortura sofrida na prisão: “De um momento para outro, estava nua apanhando no chão. Logo em seguida, começaram com os choques. Amarraram a ponta de um dos fios [elétricos] no dedo do meu pé enquanto a outra ficava passeando [atingindo diversas partes do corpo]”, disse.
“Quando começaram a jogar água, estava desesperada e achei, num primeiro momento, que seria para aliviar a dor. Mas os choques recomeçavam muito mais fortes. Percebi que a água era para aumentar a força”, disse Lucia.
Dulce Pandolfi lembrou que chegou a ser usada como cobaia em uma aula de tortura no DOI-Codi. “Era uma espécie de aula prática, com algumas dicas teóricas. Enquanto eu levava choques elétricos, pendurada no tal pau de arara, ouvi o professor dizer: Essa é a técnica mais eficaz'”, afirmou.
“Acho que comecei a passar mal, a aula foi interrompida e fui levada para a cela. Alguns minutos depois, vários oficiais entraram na cela e pediram ao médico para medir minha pressão. As meninas gritavam, imploravam, tentando, em vão, impedir que a aula continuasse. A resposta do médico Amílcar Lobo foi: Ela ainda aguenta’. E, de fato, a aula continuou.”
Fonte: Folha de São Paulo, 29.05.13